quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Os dois "Ds" da história venezuelana

À parte minha descrença nesse resquício de esperança socialista. Também já acreditei em um coletivo justo, até descobrir que capitalismo/comunismo são faces da mesma moeda. E não me imputem taxações pró-americanas (capitalistas). Já me desiludi com todos os “ismos” existentes. Se pudesse fundaria um “novo” modelo econômico/social. Não o faço por saber que tornaria, a moeda, possuidora de três lados – iguais.
Já fazia tempo que minhas mãos comichavam de vontade de escrever sobre essa figura personalíssima chamada Hugo Chavéz, há 9 anos no poder. Já fazem alguns anos, um aglomerado de estudantes fazia fila, e se empurravam para ouvir o pronunciamento do presidente venezuelano na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entre eles estava eu, com meu afã de jornalista justiceira; mas não consegui entrar na palestra, fomos barrados, ali mesmo, com a porta na cara. Nem todos podiam entrar, o auditório já estava abarrotado. Ali estavam enrraigados os princípios da nova partilha social. O “socialismo do século XXI”.

Um pouco de história

Hugo Rafael Chávez Frías nasceu dia 28 de julho de 1954. Filho de pais pobres e com cinco irmãos, o “Furacão Chavéz” teve uma infância difícil. Com pais professores primários, desde cedo, o pequeno teve que aprender o duro lado da vida. Ele vendia doces e frutas nas ruas para ajudar no sustento da família de 5 irmãos. Na efervescente adolescência, com apenas 17 anos, ingressou na Academia Militar da Venezuela. E em 1975, graduou-se em Engenharia, chegando a ser conclamado Tenente-Coronel.
Em 1992 iniciava a escalada para o poder. Comandando um efetivo de 300 homens, Chávez liderou o golpe de Estado contra o então presidente Carlos Andrés Perez. Ainda que a iniciativa tenha fracassado, e Chávez tenha sido preso por dois anos, o atual presidente ganhou projeção entre a classe menos favorecida do país, que vivia um período de elevados índices inflacionários e desemprego.
Nas eleições de 98, o líder populista saiu vitorioso com 56% dos votos e tornou-se presidente da Venezuela. Polemicista por natureza, e um grande orador, ao tomar posse, em 99, assinou um decreto convocando um plebiscito para substituir a Constituição Nacional (seu hobby nas horas vagas). Obtendo o apoio de cerca de 80% da população, a nova Carta deu mais poderes ao Executivo e eliminou o Senado. Já no ano seguinte, a Assembléia Nacional aprovou uma lei pela qual o presidente ganhou poderes (discricionários) de governar por decretos, por um período de um ano, sem qualquer aprovação de outro órgão legislador. Prazo este que seria repetidamente estendido muitas vezes ao longo de seus mandatos. Rapidamente as garras do governo foram se infiltrando nos setores estratégicos do país, primeiramente o petróleo, os sindicatos, e a mídia.
O descontentamento, sobretudo, das altas patentes do Exército e de empresários, levou em 2002, a articulação de um contra-golpe que retirou o presidente do poder por 48 horas. No dia 12 de abril, o empresário-presidente da Fedecámaras, Pedro Carmona, assumiu a chefia da República. O novo presidente rapidamente dissolveu a Assembléia, o Poder Judiciário, e atribuiu a si poderes extraordinários, declarando que no ano seguinte seriam convocadas novas eleições legislativas e presidenciais. O povo saiu às ruas em defesa da volta do líder populista. Soldados leais a Chávez retomaram o Palácio de Miraflores. Estava “reestabelecida a ordem”. Chávez foi recebido aos gritos pela população. A imprensa ficou dividida, e muitas não noticiaram o golpe, fato esse que o presidente jamais esqueceria. Os Estados Unidos foram acusados de colaborar com o golpe. E mais do que nunca, o país se tornou o maior inimigo da Venezuela. Curioso no entanto é saber que por parte do governo americano, ainda que a Venezuela componha o famoso “eixo do mal”, os EUA são os maiores importadores e portanto financiadores do governo venezuelano.
No ano passado, o governo dissolveu todos os partidos e tal qual no ideário comunista, fundou uma legenda única, o “Partido Socialista Unido da Venezuela”, formado por aliados do presidente.

Os dois “Ds” – Democracia ou Ditadura?

“Rumo ao socialismo do Século XXI”. Com esse espírito, Chávez tem conduzido sua política de reformas na Venezuela. No início do ano se envolveu na polêmica do fechamento da tradicional emissora de televisão, e única frente midiática de oposição ao regime, a RCTV. Em nome do fim da ditadura dos “medias”, e em retaliação ao suposto apoio da emissora ao golpe em 2002, o governo decidiu não renovar a licença da RCTV e a substituiu por um canal de TV público, a TVES.
Recentemente o presidente ganhou status de celebridade e ocupou as manchetes de jornais, ao se envolver em nova discussão. Ele ameaçou nacionalizar as escolas que não aderirem ao seu “Sistema Educativo Bolivariano”. De acordo com a nova política, criada por seu irmão Adan Chávez, os institutos de ensino, até 2010, devem adotar um novo modelo de aprendizagem.
Os colégios construirão uma nova estória do país, ou ao menos, irão suprimir parte dela. É que Chávez acredita que as escolas deverão transcender o colonialismo “eurocêntrico” na educação e valorizar a trajetória do povo indígena, as manifestações emancipatórias, a vida do herói nacional do presidente (Simon Bolívar), e a ideologia marxista.
A mim, e não sei aos que lêem, me parece contraditório se exaltar o valor da democracia, da liberdade, do social, do coletivo, e um monte de adjetivos balbuciados ao vento, em um país marcado por golpes e contra-golpes, pela censura aos meios midiáticos, ao sistema educacional, à formação de pensamentos oposicionistas. País este rasgado pela exaltação de uma “pureza” da raça indígena, advinda de um presidente mestiço. Uma Venezuela “reichiana”, um Chávez “hitleriano” que cada vez mais isola seu povo de sua história, alija de sua atividade “política”, no sentido primário do termo (não-partidário).
Aos saudosistas que apóiam o retorno da ditadura, que me desculpem, mas me assusta – me assusta e muito, esse discurso que alcança ressonância na América Latina, me alarma essa política de “pão e circo” que ganha espaço nas nações em desenvolvimento, essas atitudes assistencialistas que não nos separam de nossos irmãos venezuelanos. São essas semelhanças que me tiram parte do sono. Esse propagandismo, de mesmas teorias que não existem (e aqui me permito um trocadilho) a não ser no campo da IDÉIASlogia, que conquistam os mais necessitados, como nós brasileiros, carentes de um discurso motivador de mudanças. Nós dirigidos por essas politicagens sedentas de poder e status econômico. Estamos abarrotados sim...abarrotados desses imobilismo social.


Um comentário:

Rafael Barcellos disse...

Oi Luana, tudo bom? Andei lendo alguns trechos do seu blog e, simplesmente, adorei! Você escreve muito bem. Escreva mais! Aliás os blogueiros da Eco são fantásticos, pelo menos os que conheço: vc, Melido e Priscila. Bjão!